
1550
Início do processo escravocrata no Brasil
No início da colonização do Brasil, a mão de obra indígena era utilizada para os trabalhos nas mais variadas funções, especialmente nos engenhos. Assim, as primeiras caixas de açúcar enviadas à Europa foram fruto do trabalho de indígenas. Durante o século 16, exploração indígena passou a ser substituída pela africana, processo que aconteceu basicamente por três fatores: o decréscimo da população indígena, especialmente ocasionada pela alta mortalidade dos povos nativos; a multiplicação dos engenhos e demanda por mais mão de obra; e a possibilidade da importação de escravizados africanos.
Os africanos escravizados eram obtidos pelos traficantes por meio de emboscadas realizadas no interior do continente africano. Prisioneiros de guerra poderiam ser vendidos para a escravização, assim como aqueles que sofriam punições por delitos cometidos, como roubo ou adultério. Nesse período, o tráfico humano era parte de uma rede comercial que envolvia diversos países e regiões, interligando o Brasil, a África e a Europa.

Tela de Johann Moritz Rugendas (1830) representa um navio negreiro saindo da costa da África em direção à América.
Fonte: Rugendas, 1830 (Domínio Público).
Os dados disponíveis assinalam que os primeiros desembarques de escravizados africanos no Brasil ocorreram nos anos 1560, em Pernambuco. Contudo, a data geralmente utilizada como início do tráfico é o ano de 1550. O principal porto de entrada no Brasil e nas Américas foi o Cais do Valongo, localizado no Rio de Janeiro/RJ. Pelo Cais do Valongo, região portuária da cidade, passaram cerca de um milhão de escravizados. Bahia e Pernambuco também receberam em seus portos uma grande quantidade de escravizados.

Ilustração de Johann Moritz Rugendas (1835) presente no livro “Viagem pitoresca através do Brasil”. A cena representa o desembarque de africanos no Cais do Valongo, Rio de Janeiro.
Fonte: Rugendas, 1835 (Domínio Público).
Os africanos trazidos ao Brasil vieram basicamente de três regiões: da África Ocidental subsaariana, em torno do Golfo da Guiné; da região congo-angolana; e do litoral moçambicano. Entre os séculos 16 e meados do 19, estima-se que cerca de 10 milhões de africanos chegaram vivos à América. Desse número, o Brasil foi o país americano que mais recebeu escravizados, cerca de 4 milhões de homens, mulheres e crianças, o que equivale a mais de um terço de todo o comércio negreiro.

Sítio Arqueológico Cais do Valongo, região portuária da cidade do Rio de Janeiro/RJ.
Fonte: Acervo fotográfico de Marcos R. Kreutz.
A escravidão foi um período marcado pela brutal exploração e desumanização dos indivíduos. Retirados de suas terras, os africanos foram separados de suas famílias e comunidades e forçados a trabalhar em condições extremamente precárias. No Brasil, a maior parte do trabalho aconteceu nas áreas agrícolas, especialmente nas lavouras de cana-de-açúcar e no cultivo de café, mas também foi muito marcante na mineração, na construção e nos trabalhos domésticos. No Rio Grande do Sul, os escravizados atuaram nas charqueadas, na agricultura em geral, nas estâncias produtoras de gado, no corte e no beneficiamento da madeira, na extração da erva-mate e em ofícios nas áreas urbanas.

Mercado de escravos em Recife, Pernambuco.
Fonte: Zacharias Wagner, 1614-1668 (Domínio Público).
A violência física e psicológica foi um recurso amplamente utilizado pelos senhores de escravos para controlar e subjugar os escravizados, considerados como propriedade. Contudo, a resistência dos escravizados foi uma constante ao longo dos séculos em que a escravidão vigorou, manifestando-se desde pequenas insubordinações até fugas e a formação de quilombos.

Aquarela de Jean-Baptiste Debret (1768-1848) representando uma técnica de punição aplicada contra os escravizados.
Fonte: Jean-Baptiste Debret, 1768-1848 (Domínio Público).
Dicas para pesquisa
O site SlaveVoyages é uma iniciativa digital colaborativa que compila e disponibiliza publicamente registros históricos do comércio de pessoas escravizadas. Acesse em: https://www.slavevoyages.org/
Referências
ALENCASTRO, Luiz Felipe de. África, números do tráfico atlântico. In.: SCHWARCZ, Lilia Moritz e GOMES, Flávio (orgs.). Dicionário da escravidão e liberdade: 50 textos críticos. São Paulo: Companhia das Letras, 2018. p. 57.
GÓES, José R. P. Escravidão. Rede Memória. Biblioteca Nacional. 2024. Disponível em: https://bndigital.bn.gov.br/dossies/rede-da-memoria-virtual-brasileira/escravidao-jose-roberto-pinto-de-goes/.
IBGE. Território brasileiro e povoamento: negros. Brasil 500 Anos. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 2024. Disponível em: https://brasil500anos.ibge.gov.br/.
IPHAN. Cais do Valongo. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. 2024. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/1605/.
PIRES, Karen D. O trabalho escravo e suas implicações na paisagem urbana e rural de Taquari, Estrela e Santo Amaro/RS – final do século XIX. 2016. Dissertação (Mestrado em Ciências: Ambiente e Desenvolvimento) – Universidade do Vale do Taquari, Lajeado, 2016.