Para além do sítio Garivaldino (RS-TQ-58), um abrigo sob-rocha identificado no município de Brochier/RS e que fica próximo do Vale do Taquari, a região em si não apresenta sítios arqueológicos datados para o período inicial de exploração e ocupação do território pelos caçadores e coletores antigos (cerca de 10.000 anos). Contudo, 24 sítios ainda sem datação associados ao contexto dos caçadores e coletores foram registrados no Vale do Taquari.

Muitos desses sítios estão situados em abrigos de arenito localizados ao sul da região, em municípios como Paverama, Teutônia e Tabaí, ou em áreas a céu aberto, em planícies de inundação do Rio Taquari-Antas, em municípios como Lajeado e Arroio do Meio. Nesses sítios foram identificadas pontas de projétil, resíduos de lascamento e outros artefatos feitos de pedra cujas morfologias são associadas aos caçadores antigos.

Grande ponta de projétil de arenito recuperada no sítio RS-T-113, um sítio a céu aberto de caçadores e coletores. Município de Arroio do Meio/RS.
Fonte: Acervo do Laboratório de Arqueologia da Univates.

Sítio RS-TQ-66, um abrigo sob-rocha arenítica utilizado por caçadores e coletores. Município de Tabaí/RS.
Fonte: Acervo do Laboratório de Arqueologia da Univates.

Além da porção sul, foram identificados sítios de caçadores e coletores na porção norte do Vale do Taquari. Diferente do sul, onde as paisagens são marcadas pelas baixas altitudes e amplas planícies típicas de áreas de fundo de vale, e por formações geológicas areníticas associadas à Depressão Central Gaúcha, a porção norte do Vale fica no Planalto das Araucárias, nos compartimentos da Serra Geral, onde as altitudes são maiores e as paisagens mais recortadas. Nessa paisagem, foram identificados sítios em Relvado, Putinga, Fontoura Xavier, Sério e Canudos do Vale, todos à céu aberto, embora abrigos sob-rocha basáltica também existam na região.

Paisagem do norte do Vale do Taquari, nas margens do Rio Forqueta.
Fonte: Acervo do Laboratório de Arqueologia da Univates.

Um dos sítios localizados em Fontoura Xavier, o RS-T-128, apresentou uma data próxima de 2.200 anos atrás. Embora seja provável que os caçadores e coletores tenham explorado a região alta do Vale muito antes disso, o resultado obtido no sítio RS-T-128 é o primeiro que comprova, efetivamente, a circulação desses povos no norte do Vale do Taquari.

Imagem aérea do sítio RS-T-128, um sítio a céu aberto de caçadores e coletores no norte do Vale do Taquari. Município de Fontoura Xavier.
Fonte: Acervo do Laboratório de Arqueologia da Univates.

Localizado na margem direita do Rio Forqueta, um importante afluente do Rio Taquari-Antas, o RS-T-128 apresenta grandes artefatos de pedra lascada espalhados na superfície. A datação foi obtida a partir da escavação de uma área do sítio que, apesar de pequena, apresentou muita diversidade de vestígios, desde pontas de projétil produzidas sob quartzo e calcedônia, estilhas com marcas térmicas, instrumentos sobre lascas de quartzo, calcedônia e basalto, seixos com marcas de polimento, e fogueiras. Foi nesta fogueira que o carvão para datação foi retirado, revelando o período de ocupação do sítio. Embora não existam datas mais recentes para o contexto caçador e coletor da região, é muito provável que esses grupos circularam por muitos anos ainda.

Pontas de projétil recuperadas no sítio RS-T-128, um sítio a céu aberto de caçadores e coletores. Município de Fontoura Xavier/RS.
Fonte: Acervo do Laboratório de Arqueologia da Univates.

Referências

RIBEIRO, Pedro A. M.; KLAMT, Sérgio C.; BUCHAIM, Joaquim J. S.; RIBEIRO, Catharina T. Levantamentos arqueológicos na encosta do planalto entre os vales dos Rios Taquari e Caí. Revista do CEPA, v. 16, n. 19, 1989.

WOLF, Sidnei. Arqueologia Jê no Alto Forqueta/RS e Guaporé/RS: um novo cenário para um antigo contexto. 2016. Tese (Doutorado em Ciências: Ambiente e Desenvolvimento) – Centro Universitário Univates, Lajeado, 2016.