
1500
Pedro Álvares Cabral desembarca na costa brasileira
O dia 22 de abril de 1500, data da chegada de Pedro Álvares Cabral na costa brasileira, ficou conhecida como o ‘descobrimento’ do Brasil. Entretanto, a vinda de Cabral teria sido intencional, ou seja, tinha o objetivo de legitimar a presença portuguesa em terras brasileiras, oficializando a posse e dando início a exploração do novo território.
O fato de que Portugal já sabia da existência de terras na América do Sul deve-se a uma série de fatores: a assinatura do Tratado de Tordesilhas em 1494, que dividiu a América do Sul em território português e espanhol; o conhecimento das correntes e das rotas; as condições climáticas durante a navegação das embarcações; além da possibilidade do Brasil já ter sido avistado anteriormente pelo navegador espanhol Vicente Yanez Pinzón, que teria explorado o Cabo de Santo Agostinho, no litoral sul de Pernambuco, em janeiro de 1500.
Em 08 de março de 1500, num domingo, Pedro Álvares Cabral faz os últimos preparativos da expedição que levaria 13 embarcações para além-mar. Partiram na manhã do dia 09, de Lisboa, Portugal, chegando ao Brasil no dia 22 de abril do mesmo ano, na atual cidade de Porto Seguro, na Bahia. Nessa data, o Brasil foi oficialmente ‘descoberto’.

Reprodução do quadro de Oscar Pereira da Silva, de 1922, chamado “O desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro, 1500”. Óleo sobre tela (190 x 330 cm).
Fonte: Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro (Domínio Público).
Após dez dias de contatos com indígenas e exploração das terras do litoral, em 2 de maio de 1500, um sábado, a esquadra de Pedro Álvares Cabral deixou o Brasil e partiu para Calicute, na Índia. Um dos navios da frota retornou para Portugal para levar os primeiros relatos do Brasil ao rei português. Entre os documentos, estava a famosa Carta escrita por Pero Vaz de Caminha, um escrivão nobre que acompanhou a expedição de Cabral. Escrita em português arcaico, a carta de 27 páginas relata detalhes sobre a terra e os nativos. Um trecho famoso narra o primeiro encontro entre integrantes da expedição e indígenas:
“E o Capitão-mor mandou em terra no batel a Nicolau Coelho para ver aquele rio. E tanto que ele começou de ir para lá, acudiram pela praia homens, quando aos dois, quando aos três, de maneira que, ao chegar o batel à boca do rio, já ali havia dezoito ou vinte homens. Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Nas mãos traziam arcos com suas setas. Vinham todos rijos sobre o batel; e Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os arcos. E eles os pousaram. Ali não pôde deles haver fala, nem entendimento de proveito, por o mar quebrar na costa. Somente deu-lhes um barrete vermelho e uma carapuça de linho que levava na cabeça e um sombreiro preto. Um deles deu-lhe um sombreiro de penas de ave, compridas, com uma copazinha de penas vermelhas e pardas como de papagaio; e outro deu-lhe um ramal grande de continhas brancas, miúdas, que querem parecer de aljaveira, as quais peças creio que o Capitão manda a Vossa Alteza, e com isto se volveu às naus por ser tarde e não poder haver deles mais fala, por causa do mar”.

Trecho da Carta de Pero Vaz de Caminha.
Fonte: Domínio Público

Viagem de Pedro Álvares Cabral em 1500, de Portugal para o Brasil, depois para a Índia, retornando depois a sua origem. Fonte: Bueno (2000).

O planisfério de Cantino, mostrando a América no canto esquerdo. Uma das mais antigas cartas náuticas com os descobrimentos marítimos portugueses. Recebeu seu nome de Alberto Cantino, que obteve uma cópia clandestina em Portugal, em 1502. É o primeiro mapa de que há registros do Equador, dos trópicos e do Círculo Polar Ártico. Mostra ainda a linha de Tordesilhas, tratado que dividia o mundo inteiro entre Portugal e Espanha.
Fonte: Autor desconhecido, 1502 (Domínio Público).
A colonização do Brasil
Após a chegada ao Brasil, os portugueses iniciaram a exploração de recursos minerais e naturais visando lucros. Utilizaram a mão-de-obra indígena, de imigrantes e de pessoas trazidas do continente africano. Nos primeiros 30 anos após a chegada ao novo território, inúmeras viagens foram feitas pelos portugueses com o intuito de reconhecer a região. Muitos marinheiros foram propositalmente deixados entre os nativos para se familiarizar com a língua e colher informações. As informações que chegavam ao rei, contudo, não empolgavam muito sobre a nova terra, e o interesse econômico pelo Brasil não foi imediato. Os mandatários de Portugal, no final do século 15 e início do 16, estavam mais interessados no Oriente, e a coroa portuguesa considerava o Brasil como uma espécie de espaço-reserva para atividades posteriores.

Capitanias hereditárias no Brasil.
Fonte: Luis Teixeira (1564 – 1604) (Domínio Público).
Uma das primeiras ações da Coroa portuguesa foi arrendar as terras recém-descobertas. Fernando de Noronha, comerciante judeu, foi um dos primeiros a ter o direito de explorá-las em 1502, especializando-se no extrativismo do pau-brasil e de outros produtos típicos da região tropical. Mais tarde, em 1532, Portugal decidiu aplicar no Brasil o mesmo sistema que havia dado certo nos Açores, na Ilha da Madeira e nas Canárias: a divisão do território em capitanias. Dessa maneira, doou 15 lotes para figuras importantes da corte, que seriam responsáveis pela colonização. Após alguns anos, apenas duas capitanias prosperaram, São Vicente (atual São Paulo) e Pernambuco. O sistema das capitanias hereditárias, mesmo fracassado, representa o embrião da futura organização do Brasil.
Para saber mais
A Carta de Pero Vaz de Caminha
Referências
BN. A Carta de Pero Vaz de Caminha Biblioteca Nacional. 2020. Disponível em:
https://objdigital.bn.br/objdigital2/Acervo_Digital/livros_eletronicos/bndigital0009/bndigital0009.pdf.
BN. Cabral Chega ao Brasil: descobrimento ou achamento? Biblioteca Nacional. 2020. Disponível em: https://antigo.bn.gov.br/acontece/noticias/2020/04/cabral-chega-ao-brasil-descobrimento-ou-achamento.
BUENO, Eduardo. História do Brasil. Porto Alegre: Zero Hora/RBS Jornal, 2000.
CORTESÃO, Jaime. A expedição de Pedro Álvares Cabral e o descobrimento do Brazil. Lisboa: Livrarias Aillaud e Bertrand, 1922.
COSTA, Marcos. A história do Brasil para quem tem pressa: dos bastidores do descobrimento à crise de 2015 em 200 páginas. Rio de Janeiro: Editora Valentina, 2016.
IPHAN. Monte Pascoal, onde Cabral desembarcou. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. 2024. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/1660/
MELLO E SOUZA, Laura de. O nome do Brasil. Departamento de História. Universidade de São Paulo. 2024. Disponível em: https://historia.fflch.usp.br/sites/historia.fflch.usp.br/files/Nossahistdef_0.pdf