Junto com a colonização portuguesa iniciada em meados do século 18, também são encontrados os primeiros registros de escravizados no Vale do Taquari. Não se sabe ao certo quando chegou o primeiro escravizado em terras do Vale do Taquari, mas, de acordo com registros documentais do Livro de Registros da Paróquia São José de Taquari, em 1766 há o registro do nascimento de uma filha de escravizados e o óbito de um escravizado. São os primeiros registros documentais conhecidos até o presente momento para o Vale do Taquari (2025).

Fragmento dos registros em livros na Paróquia de Taquari, nascimentos e óbitos, de pessoas livres e escravizadas na década de 1760.
Fonte: Livro de Registro de Nascimentos e Óbitos da Paróquia de São José de Taquari.

Na segunda metade do século 18 e primeiras décadas do século 19, a economia do Rio Grande do Sul baseava-se especialmente na produção de trigo e na pecuária. No Vale do Taquari, neste período, a produção de trigo foi a principal atividade econômica relacionada ao uso da mão de obra escravizada. Além de abastecer o mercado estadual, o trigo era vendido para compradores do Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco.

Além do trabalho com a agricultura, as pessoas que chegaram ao Vale do Taquari na condição de escravizados desempenhavam atividades como o corte e o beneficiamento da madeira, a extração e a produção da erva-mate, atividades de campeiro, falquejador, pedreiro, carpinteiro, ferreiro, sapateiro, serrador, cavaleiro, jornaleiro e roceiro. Os homens também desempenhavam trabalhos em embarcações e nos portos. Para as mulheres, o principal serviço era o doméstico.

Registro documental da presença de escravizados no Brasil Império

Em 1872, durante o Recenseamento da População do Brasil Império, constatou-se que o Brasil tinha uma população de 10 milhões de habitantes espalhados nas 21 províncias. Desse total, 15,24% correspondia a população escravizada. No Rio Grande do Sul, entre 1792 e 1822, foram introduzidos cerca de 20 mil escravizados. Mais tarde, em 1858, o estado contava com mais de 70 mil. Na década de 1870, representavam entre 20 e 30% da população gaúcha.

Aquarela “Tipos humanos típicos da Província de São Pedro”, de 1852, pintada por Herrmann Wendroth. Escravizados do Rio Grande do Sul ilustrados no canto esquerdo e inferior da foto.
Fonte: Herrmann Wendroth (Domínio Público).

Para saber mais

FamilySearch é um serviço gratuito de genealogia fundado em 1894 e é considerado o maior acervo genealógico do mundo. Para pesquisar sobre as pessoas que viveram no Vale do Taquari no período escravista, acesse https://www.familysearch.org/pt/home/portal/ e pesquise por palavras-chave como “registros paroquiais” e “Paróquia de São José de Taquari (1766-1961)”.

Referências

KÜHN, Fábio. Breve história do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Leitura XXI, 2007.

MOREIRA, Paulo R. S.; CARDOSO, Raul R. O cotidiano insubmisso: insurreição escrava, políticas senhoriais e comunidades negras em cativeiro (Taquari – RS – Século XIX). In: SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA CULTURAL, 6, 2012. Teresina, PI. Anais. Teresina, PI: UFPI, 2012.

PIRES, Karen D. O trabalho escravo e suas implicações na paisagem urbana e rural de Taquari, Estrela e Santo Amaro/RS – final do século XIX. 2016. Dissertação (Mestrado em Ambiente e Desenvolvimento) – Universidade do Vale do Taquari, Lajeado, 2016.

PIRES, Karen D. Compadrio, parentesco e família: escravizados, libertos e livres na Paróquia de São José de Taquari – Rio Grande do Sul. 2021. Tese (Doutorado em Ciências: Ambiente e Desenvolvimento) – Universidade do Vale do Taquari, 2021.

SCHMITT, Fernanda C. Escravidão e imigração: conflitos e disputas na sociedade escravista do Vale do Taquari no período imperial. 2021. 163f. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2021.

SOUZA, Daiane. População escrava do Brasil é detalhada em censo de 1872. Fundação Cultural Palmares. 2013. Disponível em: <https://www.gov.br/palmares/pt-br/assuntos/noticias/populacao-escrava-do-brasil-e-detalhada-em-censo-de-1872#:~:text=O%20Censo%2C%20feito%20em%201872,15%2C24%25%20desse%20total>.