
1820
O naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire passa pelo Vale do Taquari
Entre 1816 e 1822, o botânico francês Auguste François César Prouvençal de Saint-Hilaire, realizou uma extensa viagem pelo Brasil, passando pelo Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Goiás, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Permaneceu por seis anos no Brasil, coletando e observando a flora, a fauna e as formações minerais. A partir de suas observações e estudos, resultou importante obra científica composta por cerca de três mil páginas, nas quais relatou suas expedições pelo país.
Além das descrições ambientais, Saint-Hilaire se interessou pelas formas e processos de ocupação e de exploração das terras, pela administração civil e eclesiástica, pelo léxico espacial e pelos topônimos, pelas produções agrícolas, pelo comércio, arquitetura, demografia e pelos costumes das diferentes populações que encontrou.

Auguste François César Prouvençal de Saint-Hilaire.
Fonte: Saint-Hilaire (1999).
As pesquisas de Saint-Hilaire foram publicadas em quatro partes que formam a obra Voyages dans I’interieur du Brésil (1830-1851) por diferentes editoras na França. Mais tarde, em 1887, a obra foi completada por uma publicação póstuma, também lançada na França. No Brasil foram publicados os primeiros resultados dos relatos do botânico francês, a partir de 1845, na “Recreador Mineiro”, revista literária de Minas Gerais. Somente a partir da segunda década do século 20, começou a ser editada e lançada toda sua obra, sob títulos diversos, por diferentes editoras brasileiras.
A viagem ao Rio Grande do Sul e a descrição de uma espécie muito conhecida
Entre junho de 1820 e junho de 1821, Auguste de Saint-Hilaire viajou pelo Rio Grande do Sul. Iniciou sua viagem pelo litoral gaúcho, em Torres. Depois de diversos locais visitados na província, chegou até Montevidéu, no Uruguai, e de lá voltou, atravessando o Rio Uruguai à altura do território das Missões. Testemunhou e descreveu a decadência das reduções e dos povos que lá ainda viviam.
No Rio Grande do Sul fez apontamentos de história natural, descreveu a geografia, além de aspectos sociais e econômicos da vida rio-grandense. Na sua passagem por Porto Alegre, surpreendeu-se com o número de prédios de dois andares, a pujança econômica, o porto e comércio movimentado da cidade, bem como da sujeira da capital, mencionando que depois do Rio de Janeiro, não viu no Brasil outra cidade tão suja. Apesar de destacar a sujeira da cidade, o francês considerou que Porto Alegre era bonita: “[…] Aqui lembramos o sul da Europa e tudo quanto ele tem de mais encantador”.

Aquarela de Herrmann Wendroth (1852). Porto Alegre vista do alto da Misericórdia em direção ao sul.
Fonte: Herrmann Wendroth, 1852 (Domínio Público).
Entre as descrições dos locais que visitou no Rio Grande do Sul, também consta o relato de que nas freguesias de Rio Pardo e de Taquari, o trigo era muito cultivado. Saint-Hilaire, no livro “Viagem ao Rio Grande do Sul” (editado em Paris) afirmou:
“Os arredores de Rio Pardo e principalmente a Paróquia de Taquari são, ao que parece, as zonas da Capitania maiores produtoras do trigo”.
Em 1822, descreveu uma espécie muito conhecida no Rio Grande do Sul, a Ilex paraguariensis (erva-mate). O material tipo da espécie teria sido coletado nos arredores de Curitiba, Paraná, e hoje se encontra depositado no Herbário do Museu de Paris com registro de procedência: “Brésil – Prov de Saint Paul. Voyage d’Augusto St. Hilaire à época de 1816-1822. Catal. C. N° 1631”. O epíteto específico “paraguariensis” foi escolhido por Saint-Hilaire por acreditar se tratar da mesma espécie encontrada no Paraguai.

Mapa extraído de Voyage à Rio-Grande do Sul (Brésil) d’Auguste de Saint-Hilaire (publicação póstuma de 1887).
Fonte: Saint-Hilaire (1887).
Para saber mais
O livro Viagem ao Rio Grande do Sul de Auguste de Saint-Hilaire pode ser baixado gratuitamente em versão digital fornecida pelo Edições do Senado Federal.
Referências
BN DIGITAL. As viagens de Auguste de Saint-Hilaire. Biblioteca Nacional. 2024. Disponível em: <https://bndigital.bn.gov.br/dossies/dossie-antigo/matrizes-nacionais/figuras-de-viajantes/as-viagens-de-auguste-de-saint-hilaire/>.
BN Digital. Auguste de Saint-Hilaire. Biblioteca Nacional. 2021. Disponível em: <http://bndigital.bn.gov.br/auguste-de-saint-hilaire/>.
BUENO, Eduardo. História do Brasil. Porto Alegre: Zero Hora/RBS Jornal, 2000.
BRUXEL, Fernanda; AVRELLA, Eduarda D.; TEIXEIRA, Marelise; FIOR, Claudiamar S.; FREITAS, Elisete M. Taxonomia, descrição e distribuição geográfica de Ilex paraguariensis A.St.-Hil. In: FERLA, Noeli J. SILVA, Guilherme L.; JOHANN, Liana (Orgs.). A cultura da erva-mate e os ácaros: situação atual e perspectivas. Porto Alegre: Editora Evangraf, 2018.
HISTÓRIA ILUSTRADA. Impressões de viagem. História ilustrada do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: JA Editores, 1998.
SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem ao Rio Grande do Sul, 1820-1821. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 1999.