
1875
Imigrantes italianos se estabelecem no Rio Grande do Sul e iniciam a colonização no norte do Vale do Taquari
A Região Serrana do Espírito Santo foi o primeiro destino dos imigrantes italianos no Brasil. No dia 17 de fevereiro de 1874, após 45 dias de viagem, o navio La Sofia atracou no Porto de Vitória com 388 imigrantes originários da cidade de Gênova, noroeste da Itália. Mas esse foi somente o início. Entre 1874 e 1935, estima-se que cerca de 1,5 milhão de imigrantes italianos se estabeleceram em terras brasileiras. São Paulo concentrou o maior fluxo migratório, tanto que a capital paulista chegou a ser identificada como uma “cidade italiana” no início do século 20.
Em São Paulo, os primeiros imigrantes italianos foram empregados nas fazendas de café, mas com o passar do tempo, passaram a trabalhar em outras áreas. Conforme dados do IBGE (2024), em 1901 representavam 90% dos 50 mil trabalhadores das fábricas paulistas.
No Rio Grande do Sul, a presença dos italianos também foi expressiva, representando o maior contingente de imigração do Estado. Nas últimas décadas do século 19, famílias vindas do norte da Itália, de regiões como o Vêneto, Lombardia e Trentino Alto-Ádige, desembarcaram em um Rio Grande do Sul mais povoado do que aquele encontrado pelos imigrantes germânicos.

Casa de imigrantes italianos construída em clareiras abertas na mata de araucária.
Fonte: Arquivo histórico municipal João Spadari Adami.
A imigração italiana no Rio Grande do Sul
Os imigrantes italianos chegaram ao Rio Grande do Sul a partir da década de 1870, vindos com a intenção de ocupar lotes e trabalhar com a agricultura. Entretanto, os lotes estavam localizados em regiões de difícil acesso, geralmente em áreas acidentadas, e eram menores do que aqueles destinados aos alemães nas décadas anteriores.
Os primeiros assentamentos foram estabelecidos na encosta superior do Planalto, entre os vales do Rio Caí e do Rio das Antas, em um ambiente com paisagens desafiadoras. Nessas áreas, em maio de 1870, foram criadas as colônias Conde d’Eu (Garibaldi) e Dona Isabel (Bento Gonçalves). Porém, oficialmente, o povoamento e a colonização iniciaram em 1875, junto do estabelecimento de outras colônias.

Caxias do Sul (Colônia Fundos de Nova Palmira) no século 19.
Fonte: Autor desconhecido (Domínio Público).
No Vale do Taquari, a instalação dos imigrantes italianos aconteceu por famílias vindas diretamente da Itália e de migrantes que saíram de outras colônias internas, como Colônia Dona Isabel (Bento Gonçalves), Conde d’Edu (Garibaldi) e Colônia Fundos de Nova Palmira (Caxias do Sul). Mais tarde, imigrantes se fixaram em outras colônias mais ao oeste do Rio Grande do Sul, como em Silveira Martins, região próxima de Santa Maria.

Mapa parcial dos lotes demarcados no município de Vespasiano Corrêa/RS, no final da década de 1890, pela Comissão de Terras. Os lotes eram demarcados em linha reta.
Fonte: Prefeitura Municipal de Muçum/RS.

Cidade de Vespasiano Corrêa, por volta de 1910. Colonizada por imigrantes italianos e seus descendentes
Fonte: Arquivo Público de Guaporé.

Colonos trabalhando em serraria. O ofício era comum entre os imigrantes italianos estabelecidos no Vale do Taquari.
Fonte: Acervo do Laboratório de Arqueologia da Univates.
Nas colônias italianas era comum o cultivo de árvores frutíferas, como bergamoteiras, laranjeiras, macieiras, marmeleiros e outras. Muitas das frutas colhidas eram processadas para fazer as compotas, entretanto, a principal fruta cultivada foi a uva, que tinha como principal finalidade a produção de vinho artesanal. A produção artesanal primeiro abasteceu as famílias, mas logo se expandiu e passou a ser comercializada fora das colônias, tornando-se uma das principais fontes de renda dos colonos.

Plantação de uvas nas encostas do Rio Taquari-Antas (entre Muçum e Bento Gonçalves), uma tradição que ainda segue forte nas áreas de colonização italiana.
Fonte: Laboratório de Arqueologia da Univates.
Referências
GOMES, Ângela de C. Imigrantes italianos: entre a italianitá e a brasilidade. In: Centro de Documentação e Disseminação de Informações. Brasil: 500 anos de povoamento. Rio de Janeiro: IBGE, 2007.
GOMES, Vanderlisa F.; LAROQUE, Luis F. da S. História e cultura dos italianos e seus descendentes: o costume do filó em localidades do Vale do Taquari/RS. Destaques Acadêmicos, Lajeado, Ano 2, n. 2, 2010.
HISTÓRIA. História ilustrada do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: JA Editores, 1998.
IBGE. Brasil: 500 anos de povoamento. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 2024. Disponível em: <https://brasil500anos.ibge.gov.br>.
KREUTZ, Marcos R.; SCHNEIDER, Patrícia; MACHADO, Neli T. G. De Esperança a Vespasiano Corrêa: seu povo, suas memórias. Lajeado: Editora Univates, 2021.
TROMBINI, Janaine. História ambiental e espacialidades ítalo-brasileiras: um comparativo em territórios no norte italiano e ao norte do Rio Taquari/RS. 2020. Tese (Doutorado em Ciências: Ambiente e Desenvolvimento) – Universidade do Vale do Taquari, Lajeado, 2020.