RS-T-132
Tipo: Sítio Guarani
Altitude: 107 metros
Localidade: Forqueta - Pouso Novo/RS
Último assentamento Guarani registrado até o momento para a montante do Rio Forqueta, o sítio RS-T-132 se insere em uma planície estreita da margem direita do Forqueta, 8 km distante do RS-T-110. Na margem oposta do rio, em frente ao sítio, há uma encosta encaixada, densos recursos rochosos no leito do rio e duas pequenas corredeiras.
Com exceção dos líticos bifaciais e unifaciais de grande porte, não foi possível verificar fragmentos de cerâmica na superfície do sítio RS-T-132, bem como os moradores também nunca evidenciaram vestígios na área. A camada arqueológica foi descoberta de forma ocasional a partir de um buraco com cerca de 90 centímetros de diâmetro aberto pela força da água da chuva que desce da encosta. Localizado a poucos metros do talude do rio, o buraco deixou em evidência uma mancha de terra preta com muitos vestígios cerâmicos, artefatos e lascas de pedra e ossos de fauna.
As camadas arqueológicas encontram-se abaixo de 40 cm de profundidade e estão muito bem preservadas. O sítio RS-T-132 foi registrado em julho de 2017 e foi escavado em agosto do mesmo ano. As intervenções nesse sítio foram direcionadas à escavação de toda a área da mancha de terra preta, sondagens prospectivas em outros pontos na planície para melhor delimitar o sítio e coletas superficial dos artefatos líticos.
Os fragmentos de cerâmica recuperados na área escavada são grandes e muitos potes estão semi-inteiros ou remontam, sugerindo terem sido deixados inteiros ali. Notou-se pouca variedade de vasilhas na mancha e praticamente não foram evidenciadas cerâmicas com pintura. Além disso, toda a decoração e acabamento da cerâmica parece menos acabada e não foram observados adornos. Nas camadas superiores do sítio, aparecem cerâmicas Guarani mescladas com caraterísticas missioneiras, uma modificação muito observada em áreas próximas aos aldeamentos jesuíticos. Nessa cerâmica modificada foi observada alta frequência de decorações escovadas e incisas, bem como formatos estranhos a qualquer outra cerâmica Guarani encontrada na região.
Com base nos elementos arqueológicos, os pesquisadores interpretaram a mancha escavada do RS-T-132 como um área doméstica repleta de vestígios de uso cotidiano. Os aglomerados de fauna identificados entre os primeiros níveis dessa área levaram a se cogitar, prematuramente, que a estrutura poderia ter se tratado de um acampamento ocasional para caça e preparação de proteína animal. No entanto, os resultados cronológicos demonstraram que essa área foi ocupada durante um intervalo longo de tempo e, portanto, não se trata de um acampamento temporário.
Foram realizadas quatro datações por radiocarbono para este sítio. Os resultados revelam que foi ocupado posteriormente ao sítio RS-T-114, aproximadamente no século 1580 da nossa Era. A dinâmica de ocupação desse sítio não parece ter se mantido contínua, nos levando os pesquisadores a sugerir três fases de ocupação. Após uma primeira fase de ocupação, que teria levado quase 100 anos, os Guarani desocuparam a aldeia diante da pressão jesuítica e bandeirante do entorno regional, nas primeiras décadas do século 1600 da nossa Era. Aproximadamente em 1650, logo após a saída dos jesuítas e bandeirantes da região, a aldeia foi novamente visitada por grupos Guarani que já traziam consigo uma cerâmica modificada. Uma sugestão forte é de que essa cerâmica partiu de alguma redução jesuítica ou área influenciada por esse contexto. Por fim, a última fase para esse sítio apresenta uma data bastante recente, datada para o início do século 1800 da nossa Era, mas que pode se estender até o século 20. Para essa data é difícil estimar a presença étnica com segurança.

1 Planície do sítio RS-T-132. Ano de 2017.

2 Vista ampla das escavações no sítio RS-T-132. Ano de 2017.

3 Escavação na mancha de terra preta do sítio RS-T-132 e sondagens para delimitação do aparecimento de outros vestígios. Ano de 2017.

4. Cerâmica Guarani com decoração escovada e formato distinto de outras cerâmicas Guarani da região. Sítio RS-T-132. Ano de 2017.
Referências
SCHNEIDER, Fernanda. Poder, transformação e permanência: a dinâmica de ocupação Guarani na Bacia do Taquari-Antas, Rio Grande do Sul, Brasil. 2019. Tese (Doutorado em Ciências: Ambiente e Desenvolvimento) – Universidade do Vale do Taquari, Lajeado,2019.