RS-T-131 – Fazenda Espanhola
Tipo: Casa açoriana
Localidade: Linha Beira do Rio - Bom Retiro do Sul/RS
O RS-T-131 é um sítio histórico localizado na margem esquerda do Rio Taquari-Antas. É composto pelas ruínas da sede da Fazenda Espanhola ou Fazenda do Espanhol, provavelmente datada do início do século 19, bem como por resquícios de acesso a um porto (escadaria). Diferente das Fazendas Pedreira (Sítio RS-T-115) e Conceição (Sítio RS-T-135), a Espanhola não tem como proprietário Manuel Alves dos Reis Louzada.
Para essa fazenda, também diferente das outras, as informações históricas são mais fragmentadas. Contudo, o cruzamento de dados recuperados em documentos regionais clarifica alguns pontos sobre o seu contexto. O primeiro registro da fazenda é vinculado ao capitão Miguel de Oliveira Barreto. O envolvimento desse militar fluminense em combates ao sul do Império teria lhe garantido a posse de terras no Vale do Taquari. Nessa época, a fazenda ainda não era conhecida como Espanhola. Miguel de Oliveira Barreto, casado com Maria Cândida Fontoura Barreto, teria falecido em algum ano entre 1833 e 1842.
Na década seguinte à morte de Barreto, a fazenda chegaria às mãos de Manoel Rodrigues Ramos, o espanhol. O espanhol, com o dote recebido da família da sua noiva, adquiriu a fazenda dos herdeiros de Barreto. Em 1869, vinte e um ano mais tarde, com a morte de Maria Francisca da Silva, sua esposa, o espanhol deu entrada em um processo de inventário detalhado. Entre os poucos bens de valor mais significativos descritos, estão as casas de moradia (sem especificar quantas), 85 braças de terra, duas mulheres e uma menina escravizadas.
Para além das informações históricas, em 2016 foram realizadas escavações arqueológicas nas ruínas da sede. Além das intervenções na edificação, as intervenções evidenciaram três degraus de uma escada construída com blocos de pedras regularmente esculpidos, sugerindo atividades portuárias frequentes.
A edificação principal, próxima da escada, é composta por dois pavimentos que medem 13,6 metros de frente e fundos e 8,40 metros nas paredes laterais. Também foram identificados dez pilares regulares de base quadrada medindo 1,17 metros de largura. As referências documentais e bibliográficas apontam para um trapiche de embarque e desembarque de mercadorias e pessoas relacionadas a esses pilares. O acesso ao que se encontrava sobre os pilares e ao segundo pavimento da casa se dava por uma escada lateral igualmente evidenciada nas pesquisas.
Durante a medição e limpeza da estrutura principal, foi possível evidenciar materiais construtivos diversos. Entre eles, as soleiras e os beirais inferiores das aberturas, esculpidos em pedra de areia e em tamanhos iguais. Nesses blocos de pedra foi possível evidenciar encaixes para as madeiras que compõem os marcos das aberturas.
A edificação, usada primeiro para habitação, também teria servido como lugar de comércio. Muitas características construtivas observadas apresentam adição de materiais indisponíveis no século 19, como reboco de cimento, demonstrando ter recebido ajustes mais recentes. Conforme informações orais de membros da comunidade, a casa foi habitada até a década de 1970.

1 Ruínas da sede da Fazenda Espanhola. Sítio RS-T-131. Ano de 2016.

2 Ruínas da sede da Fazenda Espanhola. Sítio RS-T-131. Ano de 2016.

3 Escavação arqueológica nas ruínas da sede da Fazenda Espanhola. Sítio RS-T-131. Ano de 2016.
Referências
LOPES, Sérgio N. Impactos sociais e ambientais produzidos pelo ciclo das fazendas no percurso do Rio Taquari/Rio Grande do Sul (1770-1850): uma abordagem arqueológica. 2021. Tese (Doutorado em Ciências: Ambiente e Desenvolvimento) – Lajeado, Universidade do Vale do Taquari, 2021.
SELLI, Mateus. A ocupação pré-colonial do município de Bom Retiro do Sul, RS. 2010. Monografia (Curso de História) – Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, 2010.