
40.000 anos atrás
Chegada dos primeiros humanos na América
Os humanos anatomicamente modernos deixaram a África há pelo menos 100.000 anos e começaram a se espalhar pelo mundo. Em algum momento depois de 40.000 anos, desenvolveram tecnologias necessárias para começar a explorar e habitar áreas mais ao norte. Existem muitas teorias entre os pesquisadores, mas a mais corrente é de que houve uma única migração para o norte, primeiro para a Ásia, depois para a Australásia e, mais tarde, para a Europa.
Há 40.000 anos, o clima era pleistocênico e vivíamos perto do auge da última era glacial. A maior parte da América do Norte estava coberta por uma espessa camada de gelo que tornava a região quase inabitável. O nível do mar era mais baixo, porque grande parte das águas estava presa nas geleiras, e fortes ventos polares sopravam. Obter comida e caçar animais era muito mais difícil nessas condições.
No final do período glacial, há cerca de 12.000 anos, o clima terrestre começou a esquentar, as camadas de gelo a derreter e alguns refúgios surgiram. Era a chegada de um novo período geológico, mais quente e úmido, o Holoceno. Um desses refúgios foi a Beríngia, uma ‘ponte’ de terra que emergiu do mar congelado por meio da qual grupos puderam entrar na América. Ela se estendia do que conhecemos hoje como o Alasca até a Eurásia, e era um território seco, cheio de vegetação e fauna. Hoje, o Estreito de Bering está submerso.

Estreito de Bering (Beríngia) atualmente.
Fonte: NASA (Domínio Público).
Há um consenso entre os pesquisadores de que a Beríngia foi acessada por populações que ficaram vivendo ali durante algum tempo. Em vários sítios arqueológicos da América do Norte são encontradas pontas de projétil conhecidas como “pontas de clóvis”, hoje associadas à povos que viveram há cerca de 12.000 anos na região. Essas pontas apresentam uma técnica de lascamento aprimorada para caçar a fauna gigante, a megafauna, que existia no continente americano durante o Pleistoceno.

Ponta de projétil “Clóvis”.
Fonte: The Children’s Museum of Indianapolis (Creative Commons).
Por muito tempo, a única explicação para a chegada dos primeiros habitantes na América se dava pela teoria do Estreito de Bering (Beríngia). Essa corrente teórica conhecida como ‘povoamento tardio da América’, defende que os humanos acessaram a América há 16.000l anos atrás, mas que a passagem para o sul do continente só foi possível cerca de 12.000 anos, quando o clima começou a esquentar, as geleiras iniciaram o derretimento e a vegetação passou a vigorar.

Representação gráfica do planeta durante a última era glacial.
Fonte: Ittiz (Creative Commons).
Contudo, os recentes avanços nas pesquisas levaram os cientistas a acreditar que para além do caminho terrestre da Beríngia, grupos humanos já teriam entrado na América e se espalhado em direção ao sul do continente muito tempo antes, entre 40.000 e 20.000 anos. Essa corrente teórica, conhecida como ‘povoamento precoce ou antigo da América’, defende que como os caminhos terrestres estavam bloqueados por geleiras, o deslocamento teria acontecido via marítima, pela costa do Pacífico.
Baseada em dados arqueológicos, paleobiológicos e genéticos, a ideia de um povoamento mais antigo para a América tem recebido cada vez mais adeptos. Do ponto de vista genético, descobriu-se que várias populações ancestrais contribuíram para a ascendência dos povos indígenas americanos, e não apenas uma, como se acreditava anteriormente.
Do ponto de vista arqueológico, vários sítios antigos têm ganhado destaque no cenário científico. No sítio Vasequillo (México), impressões de pegadas humanas foram preservadas em um piso de cinzas vulcânicas datado de 40.000 anos; no Parque Nacional White Sands (Estados Unidos), pegadas humanas fossilizadas foram identificadas em um lago extinto datados em quase 22.000 anos; já na caverna Chiquihuite (México), os níveis mais profundos do sítio datados entre 33.000 e 31.000 anos estão associados a artefatos de pedras lascada.

Mapeamento de pegadas humanas fossilizadas no Parque Nacional White Sands (USA).
Fonte: Matthew Bennett, Universidade de Bournemouth (Creative Commons).
Independentemente de quando chegaram à América, uma coisa já é consenso entre os pesquisadores: uma vez no continente americano, as populações passaram a se espalhar pelo mesmo através de pelo menos duas diferentes rotas. Uma seguiu a costa oeste do continente, desceu pelo Pacífico e chegou bem rápido na ponta da América do Sul. Outra se deslocou pelo centro da América do Norte por uma rota que não tinha gelo, e se espalhou em várias outras correntes migratórias a partir da região que hoje é os Estados Unidos.
Referências
BUENO, Lucas; DIAS, Adriana S (Orgs.). Arqueologia do povoamento americano: contribuições a partir do contexto brasileiro. Curitiba: Editora Appris, 2025.
MENCK, Carlos F. M. A evolução é um fato. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Ciências, 2024.