
1822
Proclamação da Independência do Brasil às margens do riacho do Ipiranga
A Independência do Brasil não foi um fato isolado que aconteceu em setembro de 1822. No contexto da época, uma série de acontecimentos levaram a este desfecho final. Um primeiro fato relevante que deve ser destacado foi a vinda do rei Dom João 6º e a família real portuguesa, em 1808, ao Brasil, fugindo da então invasão napoleônica na Europa. A família real fez do Rio de Janeiro a sede da monarquia portuguesa, cidade que tornou-se a principal do Brasil e que concentrava as principais rotas mercantis, grande circulação de pessoas e de dinheiro.
O Brasil, nesse momento, mesmo abrigando a corte portuguesa, ainda era uma colônia. Esse status mudou com a derrota de Napoleão Bonaparte na Europa, em 1814. Por um lado, a Coroa portuguesa não tinha mais motivos para justificar, diante das outras monarquias europeias, seu exílio em uma colônia, fora do centro de poder oficial de seu império. Por outro, apesar das pressões para voltar a Portugal, a corte já estava adaptada ao Brasil e relutava em retornar. A solução proposta foi elevar a colônia brasileira à condição de reino unido, igualando seu status ao de Portugal. Assim, em 1815, o Brasil foi promovido a Reino Unido a Portugal e Algarves, deixando de ser colônia.
O fato provocou animosidades entre negociantes e proprietários fixados em Portugal, uma vez que os principais investimentos da Coroa portuguesa eram realizados no Brasil. Para a burguesia portuguesa, Portugal deveria ser a sede do Império.
Do lado brasileiro, também havia descontentamento. Na época, algumas capitanias eram contra o governo português, e queriam se tornar repúblicas independentes. Em 1817, como consequência, estourou a Revolução Pernambucana. Apesar de severamente reprimida por tropas portuguesas, deixou como inspiração a deflagração de outros movimentos separatistas. Em 1820, ocorreu a Revolução Liberal do Porto, cujo movimento exigia o retorno do rei Dom João 6º a Portugal. Com o retorno de D. João a Portugal em abril de 1821, e seu filho, Dom Pedro 1º, assumiu como regente no Brasil.
Além disso, em finais do século 18 e início do 19, as colônias na América vinham conquistando a sua independência, fato que inseriu as novas nações em um cenário de transformações globais, principalmente na construção de um mundo capitalista.
As Cortes portuguesas (instituição surgida com a Revolução do Porto) queriam que o príncipe regente também regressasse para Portugal. Contrário a tal pedido, D. Pedro permaneceu no Brasil, originando o episódio conhecido como o Dia do Fico. A partir de maio de 1822, as ordens oriundas de Portugal só seriam implementadas no Brasil com o aval de D. Pedro.

Dom Pedro 1º, obra exposta no Museu Imperial de Petrópolis.
Fonte: Simplício Rodrigues de Sá, 1830 (Domínio Público).
O cenário era cada vez mais propício para a separação. No mês de junho de 1822, foi convocada eleição para a formação de uma Assembleia Constituinte no Brasil. Em agosto de 1822, Portugal novamente exigiu que D. Pedro deixasse o Brasil, anunciando o fim de uma série de medidas em vigor no Brasil. Sob influência da esposa Maria Leopoldina, de José Bonifácio de Andrada e Silva e da pressão exercida pela elite brasileira insatisfeita com a política de Portugal, D. Pedro assinou em setembro a Declaração de Independência, rompendo em definitivo com Portugal. Na sequência, foi aclamado imperador em outubro e coroado em dezembro de 1822.
Da mesma forma que algumas capitanias eram favoráveis à independência, havia aquelas contrárias. Assim, logo após a Proclamação da Independência, provocou uma série de embates entre tropas portuguesas e brasileiras em vários locais do Brasil, como na Bahia, no Maranhão e no Pará.
Para saber mais
“Independência ou Morte!” é a famosa pintura a óleo do brasileiro Pedro Américo responsável por alimentar o senso comum sobre a Independência do Brasil. Datada de 1888, com 4,15 metros de altura por 7,60 metros de comprimento, a obra hoje está pendurada no Museu do Ipiranga. Pedro Américo pintou D. Pedro montado a cavalo, com roupa de gala, espada em punho e rodeado por uma comitiva que incluía integrantes da Guarda Real também montados em seus cavalos. Segundo os historiadores, contudo, essa cena cria um ato teatral que, na realidade, não aconteceu. A viagem feita por D. Pedro na ocasião, de Santos para São Paulo, cruzava a Serra do Mar, e não era fácil. O trajeto passava por um caminho de pedra conhecido como Calçada do Lorena, a primeira ligação pavimentada entre São Paulo e o litoral paulista, construída por rochas trabalhadas a mão. Por não ser uma estrada plana, as mulas eram o meio mais seguro de subir a Serra do Mar. Dessa forma, é improvável que D. Pedro e sua comitiva estivessem à cavalo. E mais factível é que o grito da Independência tenha sido feito do lombo de uma mula.

Quadro “Independência ou Morte” de Pedro Américo produzido em 1888. A obra exposta no Museu Paulista, retrata o evento da Independência do Brasil.
Fonte: Pedro Américo, 1888 (Domínio Público).

Detalhe do quadro “Independência ou Morte” de Pedro Américo produzido em 1888. A obra exposta no Museu Paulista, retrata o evento da Independência do Brasil.
Fonte: Pedro Américo, 1888 (Domínio Público).
Referências
LIVEIRA, Cecília H. L. de S. Independência ou morte”: quais causas levaram o Brasil a se tornar independente no 7 de setembro? National Geographic Brasil. 2023. Disponível em: <https://www.nationalgeographicbrasil.com/historia/2023/09/independencia-ou-morte-quais-causas-levaram-o-brasil-a-se-tornar-independente-no-7-de-setembro>.