
1965
Registro dos primeiros sítios arqueológicos no Vale do Taquari
Durante muito tempo permaneceu no imaginário popular a ideia de que os europeus e seus descendentes, em especial, os imigrantes açorianos, alemães e italianos, desbravaram as “matas virgens e incultas” do Vale do Taquari. Teriam sido estes os precursores da colonização da região. Entretanto, as pesquisas arqueológicas revelaram que outras etnias exploraram e colonizaram o Vale muitos séculos antes.
Na região, as primeiras pesquisas arqueológicas foram realizadas pelo professor e arqueólogo Dr. Pedro Ignácio Schmitz, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Essas primeiras expedições aconteceram nos municípios de Arroio do Meio e Muçum, na década de 1960.
Em 1965, Schmitz catalogou o Sítio Arqueológico RS-03 na localidade de Linha Dom Felipe de Nadal, município de Muçum. No sítio, além de fragmentos de cerâmica e artefatos líticos, também foram resgatadas urnas funerárias. Mais tarde, em 2013, a equipe do Laboratório de Arqueologia da Univates voltou a realizar intervenções na área do sítio RS-03, encontrando mais uma urna funerária que foi datada em 400 anos atrás.

Sítio RS-03 revisitado pela equipe do Laboratório de Arqueologia da Univates em 2013.
Fonte: Acervo do Laboratório de Arqueologia da Univates.
Ainda em 1965, Schmitz registrou três sítios Guarani na localidade de São Caetano, Arroio do Meio (sítios RS-27, RS-28, RS-29); e um sítio associado à caçadores e coletores no bairro Navegantes, no mesmo município, o sítio RS-30. Foram realizadas coletas superficiais de fragmentos de cerâmica e de artefatos de pedra lascada e polidas nessas áreas.

Croqui com localização dos sítios RS 27, RS 28 e RS 29, produzido pelo arqueólogo Pedro Ignácio Schmitz, em julho de 1965.
Fonte: Instituto Anchietano de Pesquisas/Unisinos.
Em 1966, Pedro Ignácio Schmitz fez novas prospecções na região, quando registrou mais dois sítios arqueológicos associados aos Guarani no município de Muçum. No Bairro Nossa Senhora de Fátima, Schmitz registrou o RS-60 e na localidade de Linha Alegre, o sítio arqueológico RS-61. A paisagem dos sítios RS-60 e RS-61, assim como do RS-03, é caracterizada por planícies de pequena extensão entre a base da encosta e a vertente, por vales mais encaixados e o rio mais sinuoso, embora a altitude na planície não seja elevada.
O RS-60, quando registrado em 1966 por Schmitz, apresentava quatro manchas de terra pretas dispostas em linha, bem como um complexo funerário composto por cinco urnas acompanhadas por tigelas menores e ossos humanos em seu interior foram evidenciados. As urnas funerárias do sítio RS-60 foram encontradas pelo proprietário enquanto cultivava a terra, cujos detalhes foram relatados por Schmitz (1966):
“As urnas apresentavam-se da seguinte forma: estavam em pé, na terra, sendo uma delas escorada por pedras na base; sôbre a bôca estava emborcada uma panela grande, que impedia que entrasse terra e água; dentro encontraram-se em cada uma um crânio (ou restos do mesmo) e ossos humanos, principalmente os longos; duas ou três tigelas ou recipientes maiores. As urnas são corrugadas, as tigelas e outros recipientes são, em parte, corrugados ou ungulados, em parte pintados ou simplesmente lisos […]”.
Essas atividades pontuais realizadas na década de 1960 representam as bases iniciais da arqueologia no Vale do Taquari, bem como os primeiros registros de sítios junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).

Emílio Patuzzi e família com artefatos arqueológicos encontrados em sua propriedade na década de 1960. O material foi encontrado no sítio arqueológico RS-60.
Fonte: Acervo fotográfico de Osmar Patuzzi.
Referências
CNSA/IPHAN. Sistema de Gerenciamento do Patrimônio Arqueológico. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. 2024. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/sgpa/?consulta=cnsa>.
GOLDMEIER, Valter Augusto (Org.). Sítios Arqueológicos do Rio Grande do Sul: fichas de registro existentes no Instituto Anchietano de Pesquisas. São Leopoldo: Unisinos, 1983.
KREUTZ, Marcos R. Movimentações de populações Guarani, séculos XIII ao XVIII – Bacia Hidrográfica do Rio Taquari, Rio Grande do Sul. 2015. Tese (Doutorado em Ciências: Ambiente e Desenvolvimento) – Centro Universitário Univates, Lajeado, 2015.
WERLANG, Olívia T. Museu Arqueológico do Rio Grande do Sul. Monografia (Curso de História) – Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, 1981.