
1800
Século que marca os últimos registros de sítios Guarani no Vale do Taquari
No Vale do Taquari, a última fase Guarani foi marcada por um intenso processo de queda demográfica que teve início a partir dos anos de 1630, ou seja, depois da chegada dos jesuítas e das ações dos bandeirantes paulistas, ocorridas entre 1636-1638. Esse processo foi especialmente importante nas aldeias estabelecidas ao longo do Rio Taquari-Antas, onde nenhuma datação posterior à década de 1630 foi recuperada até o momento para os sítios Guarani.
Por outro lado, em outras áreas do Vale do Taquari, como na porção média do Rio Forqueta, muitas aldeias Guarani permaneceram ativas durante séculos após os eventos de 1630. Enquanto algumas aldeias ficaram ocupadas até as primeiras décadas de 1800, em casos específicos, o registro segue aparecendo até o final do século 19.
Esses dados foram obtidos a partir de pesquisas realizadas em dois sítios do Forqueta, o RS-T-114, localizado no município de Marques de Souza, e o RS-T-132, localizado no município de Pouso Novo. Enquanto o RS-T-114 manteve-se ativo de forma contínua durante as reduções jesuíticas do oeste e também após a saída dos missionários e dos bandeirantes da região, o sítio RS-T-132 parece ter sido abandonado entre os anos de 1630 e 1640, justamente no período mais intenso dos conflitos. Entretanto, na década seguinte, recebeu ocupações novamente. Nesse retorno à aldeia, os indígenas trouxeram consigo uma cerâmica modificada, já com influências das áreas de reduções jesuíticas.

Exemplos de cerâmicas evidenciadas no sítio RS-T-132 com influência missioneira.
Fonte: Acervo do Laboratório de Arqueologia da Univates.

Paisagem acidentada do entorno do sítio RS-T-132. Município de Pouso Novo.
Fonte: Acervo do Laboratório de Arqueologia da Univates.
A permanência e o regresso indígena para o médio Forqueta deve ter ocorrido porque esse território ainda se constituía como um importante refúgio aos Guarani. Protegida por uma geografia mais acidentada, essa região ficou alheia à exploração e ao interesse dos colonizadores até o final do século 19.
Por fim, a ocupação Guarani na região do Forqueta teve fim com a chegada e o estabelecimento de colônias europeias quase no final do século 19. Em 1875, colônias alemãs foram inauguradas nas proximidades de Marques de Souza, como o caso da Picada Essig; e entre os anos de 1891 e 1914, colônias de italianos foram estabelecidas em Marques de Souza e Pouso Novo.

Lugar de travessia no Rio Forqueta, conhecido como Passo da Barca, hoje Picada Fhillipp Essig (município de Travesseiro). Ano de 1953.
Fonte: Um lugar no Vale (2009).
É importante destacar que enquanto os Guarani ocupavam o médio Forqueta no período colonial, indígenas Kaingang (descendentes dos Jê do Sul) retornavam para áreas próximas ao Vale do Taquari. No século 19, aldeias, toldos ou arranchamentos Kaingang foram estabelecidas na porção norte do Taquari-Antas (liderados pelos caciques Cun-nhungoê, Nhengoá, Gheënguy, Valcofé), entre os rios Taquari-Antas e Caí (aldeamento do cacique Yotoahê) e também no Rio dos Sinos (aldeamento cacique Nicué).
Referências
LAROQUE, L. F. S. Lideranças Kaingang no Brasil Meridional (1808-1889). Pesquisas Antropologia, v. 56, p. 1-220, 2000.
SCHNEIDER, Fernanda. Poder, transformação e permanência: a dinâmica de ocupação Guarani na Bacia do Taquari-Antas, Rio Grande do Sul, Brasil. 2019. Tese (Doutorado em Ciências: Ambiente e Desenvolvimento) – Universidade do Vale do Taquari, Lajeado, 2019.