
1750
Década que marca o início da colonização europeia no Vale do Taquari
Desde o fim das bandeiras e das incursões jesuíticas no Vale do Taquari por volta de 1640, a história da região apresenta grandes lacunas aos pesquisadores. Os anos passaram; os bandeirantes são derrotados e tomam outro rumo; os jesuítas seguem para a margem direita do Rio Uruguai. Assim, o ‘relógio histórico’ se arrastou sem que haja informações a respeito de eventos e processos que aconteceram no Vale até a segunda metade do século 18. A história muda a partir da década de 1750, quando colonizadores açorianos (portugueses) e seus descendentes chegam ao Vale do Taquari, dando início a uma nova etapa de colonização.
O contexto para a inserção de colonos açorianos
Os açorianos se assentaram inicialmente nas margens do Rio Taquari-Antas, onde fundaram o primeiro povoado, São José de Taquari. Assim como aconteceu com a fundação das primeiras vilas do Rio Grande do Sul, os fatores que motivaram o início da colonização açoriana no antigo território de São José de Taquari (Taquari) foi a disputa entre as Coroas portuguesa e espanhola pela demarcação das fronteiras na América do Sul.
Em 1750, Portugal e Espanha assinaram o Tratado de Madri. A cláusula principal previa a troca da área dos Sete Povos das Missões, que pertencia à Espanha, pela Colônia do Sacramento, que era de domínio português. O tratado determinava também a retirada dos indígenas e jesuítas da região dos Sete Povos para o assentamento de colonos açorianos. O objetivo era povoar aquele espaço que, a partir do Tratado, passaria a ser território de Portugal.
Entretanto, a inserção de colonos açorianos na região dos Sete Povos não se concretizou. Contrários a ceder o espaço, os indígenas Guarani se rebelaram em um embate bélico que ficou conhecido como Guerra Guaranítica (1753-1756). Esse conflito inviabilizou o assentamento dos colonos açorianos no oeste do Rio Grande do Sul. Em meio a essa conjuntura política, para dar respaldo às manobras militares naquela região, foram criados três povoados portugueses: Rio Pardo, Santo Amaro e São José de Taquari, espaços que na metade do século 18, começaram a receber imigrantes açorianos.
A criação de Rio Pardo, Santo Amaro e Taquari
Após a assinatura do Tratado de Madri, o governador do Rio de Janeiro e comissário designado para a demarcação dos limites do Tratado, Gomes Freire de Andrade, ordena a nova demarcação dos limites do território que passa a fazer parte de Portugal, bem como iniciam os preparativos para a remoção das aldeias jesuíticas da área dos Sete Povos das Missões.
Para dar sequência a esse processo, em 1751, Gomes Freire de Andrade ordenou a construção de um forte a caminho das Missões. Situado na margem esquerda do Rio Jacuí, o mesmo foi batizado com o nome de Jesus Maria José. A construção do forte com todo aparato bélico, deu origem à fundação essencialmente militar do povoado de Rio Pardo, sendo, na época, o ponto mais extremo dos portugueses em direção às Missões. Em 1762, o povoado foi elevado à categoria de Freguesia Nossa Senhora do Rosário do Rio Pardo.

Planta do Forte Jesus Maria José. Desenho de Manoel Vieira Leão, 1754.
Fonte: redememoria.bn.gov.
Além de Rio Pardo, na mesma margem do mesmo rio, outro local também foi escolhido estrategicamente por Portugal para estabelecer armazéns reais para apetrechos de guerra, alimentos, vestimentas e outros produtos que abasteciam os exércitos nas incursões às missões. O povoado recebeu o nome de Santo Amaro, que anos mais tarde, em 1773, foi elevado à Freguesia de Santo Amaro.

Fragmento de mapa de 1772, onde aparece as guarnições militares de Rio Pardo e Santo Amaro, às margens do Rio Jacuí.
Fonte: Biblioteca Nacional.

Povoados fundados a partir de meados do século 18.
Fonte: Acervo do Laboratório da Arqueologia da Univates.
Na esteira da criação dos povoados de Rio Pardo e Santo Amaro, em meados da década de 1750 é fundado o povoado de São José de Taquari, fato que marca a chegada dos imigrantes açorianos e seus descendentes ao Vale do Taquari.
Além de assentar os colonos açorianos, São José de Taquari cumpria outros propósitos da coroa portuguesa. Um deles era produzir e fornecer alimentos para abastecer outros locais, especialmente as tropas militares portuguesas em constantes lutas pelo Rio Grande do Sul. O outro era conter o avanço das tropas espanholas no Rio Grande do Sul, uma vez que a posição geográfica de Taquari era favorável para defesa, dificultando o acesso espanhol a Rio Pardo. Ao mesmo tempo, a região começava a receber súditos da coroa portuguesa, uma forma de tomar posse do território pertencente a Portugal.

Centro histórico do Distrito de Santo Amaro do Sul.
Fonte: Acervo do Laboratório de Arqueologia da Univates.
Referências
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